Capítulo 1


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Notas
1. Esta é uma fanfic LGBT.

2. Glossário (para melhor entendimento da história)

Liga do Peloponeso: Liderança espartana.
Liga de Delos: Liderança ateniense.
Ilhas de Prata: Local composto pelas ilhas de Delos e Míconos (separadas por um canal).
Misthios: Alguém com um conjunto específico de habilidades que pode ser contratado para um trabalho. No contexto do jogo, pode ser interpretado como mercenário.
Contexto: a história se passa durante o primeiro período da Guerra do Peloponeso. Nesta primeira fase, Esparta avançou seu exército em direção ao domínio da Liga de Delos para lutar contra a influência ateniense no mundo grego.
Em Assassin’s Creed Odyssey: Alexios, O Portador da Águia, é o protagonista e neto de Leônidas, famoso general espartano. Quando criança, foi expulso de Esparta, sendo jogado de um precipício por seu pai. Seu crime havia sido matar (sem querer) um sacerdote que sentenciou sua irmã mais nova à morte devido a uma falsa profecia. Sua família espartana então se dissipou, e sua mãe desapareceu. Aqui, Alexios está em busca do paradeiro dela, quando recebeu uma mensagem urgente solicitando seus serviços como mercenário nas Ilhas de Prata.
Ikaros é a águia de estimação de Alexios e está sempre com ele.
Por questões de vocabulário, irei me referir ao personagem Thaletas como general (ele é orginalmente um polemarco).
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A chegada de Thaletas

   O sol brilhava intensamente sobre as águas do mar Egeu quando a pequena frota espartana do general Thaletas foi atacada por navios atenienses. Esparta não era exatamente conhecida por ter uma frota naval relevante, mas o general estava certo de que Poseidon não o castigaria por atender o pedido de socorro de um grupo de rebeldes das Ilhas de Prata, território pertencente à Liga de Delos. Mesmo danificado e distante do restante da frota que sucumbiu, o navio espartano conseguiu se aproximar da praia de Ftelia, em Míconos, aonde atracou forçadamente na areia, ficando permanentemente inutilizado. Isso não importava para Thaletas pois se sentia abençoado o suficiente por Poseidon por ter chegado vivo à ilha aonde pretendia estar quando zarpou naquela manhã. Os equipamentos de guerra espartanos se preservaram, assim como diversos suprimentos para sua tripulação, mas para se estabelecerem em um acampamento no local, seria necessário enfrentar um grupo de soldados atenienses que protegia a praia a alguns quilômetros dali. Thaletas organizou seus homens e, após enviar um batedor para verificar quantos atenienses protegiam o local, tinha convicção de que poderiam atacar ainda naquela tarde e saírem vitoriosos.


   O conflito iniciou-se poucas horas depois. Thaletas se encontrava na ostensiva, segurando seu escudo com absoluta convicção de que naquele dia a areia branca terminaria banhada com o sangue de seus inimigos, e liderava seus homens como se os espartanos fossem favorecidos pelos deuses pessoalmente. Com palavras de ordem, comandava-os para que nunca recuassem, estivessem eles feridos, quebrados ou sangrando.
   A batalha começou com vantagem espartana, mas Thaletas não contava que alguns soldados inimigos estavam agrupados fora do acampamento, entrando na luta momentos depois de começarem a invasão. Isso provocou uma perda inestimável para ele, que precisou assumir imediatamente uma postura defensiva.
   - Volte com o seu escuto, ou sobre ele! -, gritou Thaletas, se esquivando de ataques e se esforçando para proteger os soldados que estivessem ao seu alcance.
   Enquanto os espartanos seguidam resistindo, um novo grupo de guerreiros surgiu. Não possuíam estandartes, e pareciam lutar com ao favor deles. Se aproximaram rapidamente, homens e mulheres a cavalo e a pé, e a surpresa daquele ataque deixou as defesas atenienses completamente vulneráveis. Vendo a chance de reagir, Thaletas avançou, e seu pequeno e brutal exército deixou rastros de sangue ateniense pelo chão até que não se via nenhum inimigo em pé. A perda de alguns de seus homens havia sido um duro golpe para Thaletas, mas a ajuda misteriosa garantiu que ali se fizesse uma vitória espartana.
   O general então se aproximou dos guerreiros estranhos buscando algum indivíduo que se destacasse mais do que outros e a quem pudesse chamar de comandante. Queria agradecer, mas queria também ter certeza de que não eram um novo inimigo. Não demorou muito até que surgisse uma figura feminina de voz firme que gritava alegremente:
   -Esparta atendeu nosso chamado!

   Kyra era uma mulher de pura convicção. Ela comandava um grupo de rebeldes nas Ilhas de Prata contra a hegemonia ateniense no local, pois Podarkis, o governante que residia em Míconos com recursos da Liga de Delos, era um tirano. Tinha poucas opções de resistência, e dentre elas estava solicitar ajuda espartana ou contratar os serviços de mercenários. Em desespero, disparou mensagens para ambas as possibilidades, na esperança de que a ajuda chegaria cedo ou tarde. Thaletas atendeu o pedido, não apenas por seu desejo de sangue ateniense, mas também porque aspirava demonstrar para Esparta seus feitos, e viu ali uma oportunidade de trazer honra e glória para sua cidade-estado.


   O sol estava se pondo quando o grupo de rebeldes e os soldados terminaram de recolher os corpos. Após uma breve exploração, foi decidido o local na qual se ergueria o acampamento espartano. Em poucas horas, bandeiras azuis com o brasão da coruja eram substituídos por estandartes vermelhos espalhados ao longo do lugar, dando àqueles homens a sensação de estarem conectados com sua terra natal de alguma forma. O dia passou rápido, e Thaletas se deu conta de que, talvez, conquistar Míconos não era um feito apenas para a glória de sua amada Esparta, mas também um desejo que ia crescendo dentro dele na medida em que conhecia Kyra e os rebeldes melhor. Enquanto seus homens trabalhavam, Thaletas e Kyra conversavam, e a naturalidade na qual o encontro deles fluiu fez com que esquecessem brevemente que estavam lutando em um conflito sangrento horas antes. 

   Ao deitar-se em sua tenda naquela madrugada, Thaletas começou a pensar em Kyra e em como ela tinha coragem e força ímpares. Quando decidiu atender ao pedido de ajuda dos rebeldes, suas intenções giravam em torno de conquistar as ilhas para Esparta, mas naquele entardecer se deu conta de que a líder rebelde não lutava apenas contra Atenas como ele, mas também por governar o lugar. E, por algum motivo, isso não o incomodava.