Capítulo 6
Resolução
Alexios e Thaletas chegaram no esconderijo a cavalo e amarraram os animais em um bosque próximo. Estavam animados, e enquanto caminhavam pelos corredores sinuosos do lugar, faziam o possível para abafar o tom de voz da conversa, muitas vezes segurando o riso para evitar eco. Membros da resistência rebelde observavam enquanto os dois passavam, estranhando a tranquilidade que transpareciam.
Kyra aguardava enquanto revisava mentalmente os relatórios que seus batedores forneceram alguns minutos antes. Ela pretendia reportar o sucesso que vinha obtendo no recrutamento de novos aliados e sobre como a crescente insatisfação popular das ilhas era um fato que ela estava usando a seu favor. Ela sabia que, para Thaletas, recrutar civis era uma perda de tempo, pois para ele comerciantes insatisfeitos e marginais só atrapalhariam a investida deles, e estava receosa sobre a influência do general sobre Alexios. No entanto, descoberta de Alexios alguns dias antes sobre o enfraquecimento das forças de Podarkis colocou um equilíbrio nas discussões entre os dois, que naquela noite pareciam estar mais tolerantes que o habitual.
- Precisaremos agir rápido. - Kyra iniciou a reunião. - No momento em que Podarkis perceber que estamos nos movimentando, ele chamará reforços, e se não tirarmos a vida dele antes que isso aconteça, teremos desperdiçado nossa melhor chance de vitória. - ela já havia ordenado que espiões e batedores ficassem de olho na movimentação no porto, nas estradas perto dos fortes e no entorno da residência de Podarkis. Alexios tinha razão, aparentemente Atenas estava tentando a todo custo barrar o avanço espartano no continente, e pelas notícias que circulavam, a capital estava em desvantagem.
- Pois eu digo que Alexios deveria ir atrás dos comandantes antes de fazermos o ataque. Atenienses são como ovelhas, mate o pastor, e o bando se dissipará. Sabemos que em Míconos existem três comandantes ativos, e vamos precisar eliminá-los. E quando Podarkis perceber que seus comandantes morreram, já estaremos na porta dele.
Surpreendentemente, Kyra concordou com Thaletas. Apesar do clima sério entre ambos, para Alexios isso era um sinal de que estavam no caminho certo.
Ficou acordado entre os três que na próxima madrugada Alexios deveria invadir o forte ateniense ao norte da ilha de Míconos e assassinar o comandante que lá estivesse. O recrutamento que Kyra vinha fazendo não havia sido em vão, pois graças a ela Alexios teria o auxílio de alguns soldados infiltrados. Eles eram filhos de comerciantes e fazendeiros locais e foram forçados a se juntar à força-tarefa de Podarkis no momento de crise. Deixando o orgulho de lado, Thaletas admitiu que Kyra agiu certo.
Ao final da reunião, a interação entre Kyra e Thaletas terminou com um pouco mais de leveza do que havia começado. Os três estavam de comum acordo sobre suas ações, e decidiram usar aquela última noite antes do ataque para festejar. Não sabiam se sairiam vivos daquela guerra, então festejar como se fosse a última vez não parecia uma má ideia. Thaletas havia feito muitas amizades entre os rebeldes, e aproveitou a oportunidade para se vangloriar um pouco sobre suas campanhas militares. Seus amigos se encarregaram de manter seu copo de vinho sempre cheio, pois a cada momento que o general ficava mais bêbado, mais engraçadas ficavam as histórias. Observando Thaletas de longe, Alexios começou a pensar se intimamente o general não estava apenas fazendo o possível para não precisar interagir com Kyra. Decidiu que não se preocuparia muito com isso, pois queria se divertir também. Kyra, na mesma lógica de Thaletas, resolveu se agrupar com alguns de seus aliados mais próximos, distante de atenção.
A lua ainda estava alta quando Alexios e Thaletas deixaram a caverna, e o mercenário agradeceu aos deuses pelo céu limpo que permitia que o luar mostrasse o caminho para eles. Não conseguiriam achar seus cavalos no bosque, então deixaram eles sobre responsabilidade de Kyra. Thaletas só era capaz de caminhar com a ajuda do amigo, que para a sorte do general estava relativamente sóbrio. Apesar de ter que praticamente carregá-lo para o acampamento, Alexios estava achando aquela cena divertida, pois um espartano bêbado não era uma cena muito comum de se testemunhar. A situação era especialmente engraçada pois horas antes Thaletas se gabava de seus feitos militares e, naquele momento, ele não se parecia nada com o corajoso general que havia descrito antes.
Eles chegaram em segurança, e quando Alexios colocou o amigo para se deitar em sua tenda, percebeu que ele já estava desacordado. Sentiu que aquele era o momento perfeito para dizer como gostava de estar na companhia de Thaletas sem que precisasse ouvir uma resposta.
- Thaletas, conhecer você tem sido a melhor parte dessa rebelião. Durma bem. – Ele pressionou sua testa contra a testa do general que dormia, e retirou-se em seguida.
Na manhã seguinte, Alexios acordou com um barulho de pancadas contra madeira do lado de fora. Saiu de sua tenda com preguiça, e viu que somente Thaletas já estava acordado. Ele deferia golpes contra um tronco espesso usando sua lança com uma mão e um denso escudo espartano na outra. Vestia uma túnica de algodão cru e sandálias comuns, e sua trança estava completamente bagunçada.
Para infelicidade de Alexios, a manhã que adentrava no acampamento revelava mais partes do corpo do general do que o mercenário se permitia ver normalmente. Sua afeição vinha crescendo sempre que ele descobria novos lados de Thaletas e ele não tinha certeza se estava preparado para se despedir do general quando a rebelião acabasse. Além disso, já fazia tempo desde a última vez em que Alexios esteve à vontade com outra pessoa a ponto de relacionar-se intimamente, e percebeu naquela cena o perigo de atrair-se fisicamente por alguém na qual ele já era apegado. No entanto, como ele poderia simplesmente ignorar que Thaletas naquele momento não estava escondido debaixo das camadas do uniforme espartano? Começou a desconfiar que aquilo tudo se parecia mais com um teste de resistência aplicado pelos deuses. E, apesar das incertezas, Alexios sentiu-se tentado a continuar observando, e a cada segundo que passava ele imaginava que, se aquilo fosse mesmo um teste dos deuses, então estava reprovado.
De todas as características físicas de Thaletas, o seu perfil era o que causava em Alexios a sensação de que seria capaz de desprender-se de todas as suas convicções e fazer as vontades do general ali mesmo. Eles não possuiam uma relação hierárquia militar, e no entanto Alexios ansiava conceder a Thaletas tudo o que ele aspirava para o futuro. Suas responsabilidades sempre vinham à tona toda vez que colocava seus olhos sobre a lança quebrada de Leônidas, mas naquela manhã ele não equiparia suas armas. Ao invés disso, permitiu-se apenas admirar Thaletas durante o treinamento e a única certeza que tinha é que definitivamente a túnica de algodão caía muito bem no general.
Para infelicidade de Alexios, a manhã que adentrava no acampamento revelava mais partes do corpo do general do que o mercenário se permitia ver normalmente. Sua afeição vinha crescendo sempre que ele descobria novos lados de Thaletas e ele não tinha certeza se estava preparado para se despedir do general quando a rebelião acabasse. Além disso, já fazia tempo desde a última vez em que Alexios esteve à vontade com outra pessoa a ponto de relacionar-se intimamente, e percebeu naquela cena o perigo de atrair-se fisicamente por alguém na qual ele já era apegado. No entanto, como ele poderia simplesmente ignorar que Thaletas naquele momento não estava escondido debaixo das camadas do uniforme espartano? Começou a desconfiar que aquilo tudo se parecia mais com um teste de resistência aplicado pelos deuses. E, apesar das incertezas, Alexios sentiu-se tentado a continuar observando, e a cada segundo que passava ele imaginava que, se aquilo fosse mesmo um teste dos deuses, então estava reprovado.
De todas as características físicas de Thaletas, o seu perfil era o que causava em Alexios a sensação de que seria capaz de desprender-se de todas as suas convicções e fazer as vontades do general ali mesmo. Eles não possuiam uma relação hierárquia militar, e no entanto Alexios ansiava conceder a Thaletas tudo o que ele aspirava para o futuro. Suas responsabilidades sempre vinham à tona toda vez que colocava seus olhos sobre a lança quebrada de Leônidas, mas naquela manhã ele não equiparia suas armas. Ao invés disso, permitiu-se apenas admirar Thaletas durante o treinamento e a única certeza que tinha é que definitivamente a túnica de algodão caía muito bem no general.
O sol já estava aquecendo o dia quando Thaletas resolveu fazer uma pausa. Seus homens levantavam um a um e começavam suas atividades matinais. Como se tivesse acabado de acordar, Alexios se aproximou de Thaletas levando para ele pão e mel, e com muito esforço manteve o olhar focado apenas em seu rosto. Thaletas sentia-se vigoroso e aceitou de bom-grado a oferta do amigo.
- Alexios! Mal posso acreditar que amanhã a esta hora estaremos invadindo a residência de Podarkis...
- Sairemos vitoriosos, meu caro. Prepare-se para ficar bêbado novamente.
- Hah! Dessa vez eu que vou te carregar de volta para o acampamento.
Alexios riu, e lembrou-se da noite passada quando aproveitou-se da vulnerabilidade de Thaletas para tocar em seu rosto. Enquanto Thaletas cumprimentava seus homens que passavam por ali, Alexios aproveitou para se afastar e caminhou até a beirada de uma pedra que tinha uma vista para o mar. Ele voltou seu olhar para noroeste dali, pois sabia que naquela direção encontrava-se Delfos.
- Lykanos, meu amado Lykanos... espero que me perdoe um dia. - ele falou baixinho para si, pois já sabia que estava apaixonando-se por Thaletas.
- Sairemos vitoriosos, meu caro. Prepare-se para ficar bêbado novamente.
- Hah! Dessa vez eu que vou te carregar de volta para o acampamento.
Alexios riu, e lembrou-se da noite passada quando aproveitou-se da vulnerabilidade de Thaletas para tocar em seu rosto. Enquanto Thaletas cumprimentava seus homens que passavam por ali, Alexios aproveitou para se afastar e caminhou até a beirada de uma pedra que tinha uma vista para o mar. Ele voltou seu olhar para noroeste dali, pois sabia que naquela direção encontrava-se Delfos.
- Lykanos, meu amado Lykanos... espero que me perdoe um dia. - ele falou baixinho para si, pois já sabia que estava apaixonando-se por Thaletas.